As falsificações de Antiguidades Militares existem e cada vez mais infestam o mercado mundial. Algumas falsificações podem ser encontradas infelizmente até em museus. No entanto esta praga ainda pode ser identificada, desde que o colecionador se mantenha atento e admita a sua existência e a possibilidade dela cruzar o seu caminho.
Criamos esta seção justamente para compartilhar conhecimento com os colegas colecionadores. Este é um conhecimento precioso e fundamental aos colecionadores. Então, toda vez que tomarmos conhecimento de uma falsificação serial ou padronizada, temos que apresentá-la ao meio, pois esta é uma informação que não tem preço para a comunidade.
Breve Histórico das Falsificações
Infelizmente as falsificações existem há décadas. No que diz respeito a Condecorações alemãs, logo após o final da 2ª Guerra Mundial, já existiam falsários produzindo peças alemãs para atender à demanda das tropas americanas de ocupação por souvenires.
Existem relatos já na década de 50 de falsificações grotescas de peças alemãs. Como não existia a facilidade da informação de hoje, fabricava-se a peça de qualquer jeito, fora da especificação de materiais e padrões. Por exemplo, ouviu-se dizer que existiu um cufftitle de Creta e produzia-se uma tira de tecido com a palavra Kreta bordada. Por outro lado, o fabricante Souval de Viena continuou a sua produção de Cruz de Ferro para atender a demanda de souvenires na Áustria. Isso gera problemas até hoje com as Cruzes de Ferro deste fabricante, pois o material e moldes usados eram os mesmos da época da Guerra.
Outra produção de falsificações foram os artesãos de Hollywood. O vários filmes de Guerra produzidos após 1945 produziram várias réplicas de peças originais. No entanto, apesar de seguirem formatos, os detalhes também foram esquecidos. Este também é um segmento facilmente identificável.
As melhores falsificações foram criadas entre as décadas de 70 e 80, pelo falsário conhecido como Mr. Floch. Geralmente chama-se a falsificação feita por este falsário como Floch. Seu nível de qualidade e detalhes são muito detalhados e algumas falsificações são difíceis de serem identificadas por colecionadores iniciantes ou medianos. Seu sucesso se deve principalmente ao fato de ele ter conseguido moldes originais de algumas medalhas.
Existem falsificações mais recentes das décadas de 90 e dos últimos anos, mas de qualidade muito baixa, feitas principalmente para enganar colecionadores iniciantes.
Um detalhe importante que deve ser mencionado é que a Argentina apresentou uma produção significativa de falsificações de Condecorações Alemãs da 2ª Guerra, principalmente na década de 80. No entanto, estas eram destinadas apenas ao mercado latino americano, pois sua qualidade não conseguiria atingir o nível de falsificações que países europeus e os EUA precisariam para enganar os colecionadores. Estas falsificações têm como principal característica o tamanho levemente superior que as Condecorações originais. Isso porque os moldes eram feitos em cima de condecorações originais. Os materiais usados são bem diferentes que os das peças originais. Este tipo de falsificação ainda pode ser encontrado em feiras de antiguidades e antiquários.
Quando devemos nos preocupar
Há colecionadores que muitas vezes chegam ao nível da paranóia de desconfiar da própria sombra no que diz respeito à originalidade de uma Antiguidade Militar. Na realidade é necessário se colocar um pouco no lugar de um falsário.
Nem todas as Antiguidades Militares valem a pena serem falsificadas. Algumas medalhas mais básicas ainda apresentam baixo valor de mercado, inviabilizando uma boa cópia.
Uma boa cópia custa muito para chegar ao nível de conseguir enganar um colecionador mediano. É custo para o desenvolvimento de um molde perfeito, é custo para chegar em uma liga metálica admissível, é custo para a fabricação de uma fita livre de poliéster e sem uso de branqueadores que reagiriam na luz ultravioleta e é custo para a produção.
Que falsário produziria uma Cruz de Hindenburg que hoje custa R$50-60. Ou mesmo uma Medalha da Campanha de Inverno (Ostmedaille). Ainda não vale a pena. As falsificações existentes hoje são destinadas a peças de maior valor agregado. Isso é negócio para o falsário, ele vai primeiro onde há mais lucro. É melhor ganhar mais em uma única peça, do que ter que fabricar e desovar 100 peças.
Assim, quanto maior valor tiver uma Antiguidade Militar, maior a chance de ser observada uma falsificação de ótima qualidade.
Existem falsificações de Antiguidades de menor valor agregado, mas sua qualidade e detalhes ainda são pobres. A maioria não passa por quem já teve uma peça original em mãos. As falsificações existentes, por exemplo, de uma Medalha da Campanha de Inverno (Ostmedaille) é facilmente observada. Por isso é muito importante o colecionador ter a experiência de manusear e conhecer pessoalmente as Antiguidades, sejam de colegas, sejam de vendedores ou sejam as suas próprias.
Como Identificar
Depois de excluídas as falsificações grotescas, a melhor forma de identificar uma falsificação é compará-la com uma peça original. Lembrando que algumas Antiguidades Militares foram feitas por vários fabricantes, sendo natural algumas diferenças.
Na comparação, dado que não temos muitas peças rodando o mercado brasileiro, uma busca na Internet pode ser muito proveitosa. Isso já é o suficiente para barrar grande parte das falsificações. Existem também ótimos livros atuais, específicos para uma determinada peça ou condecoração, contendo várias fotos e detalhes dos diversos fabricantes, assim como as falsificações atualmente mais facilmente encontradas.
O nível seguinte seria a busca de algum colecionador mais experiente ou especialista em um determinado tipo de Antiguidade. Como os colecionadores geralmente são seres que adoram dar opinião, é muito fácil conversar e pedir uma avaliação com base em fotos.
O último nível seria procurar um especialista reconhecido pelo meio, enviar a peça e solicitar, e provavelmente pagar por isso, um atestado de autenticidade da peça. Alguns destes certificados são aceitos de olhos fechados. No entanto, a historia já mostrou, que ao longo do tempo alguns destes especialistas caíram em desgraça. No começo da década de 90 os certificados do Manion’s dos EUA eram bem aceitos no meio. De meados da década de 90 até o ano 2000 o Manion’s caiu em desgraça entre os colecionadores sérios. O fato é que ele era uma casa de leilões, onde em algum momento começou a passar atestados de originalidade para peças duvidosas que eram colocas em leilão e isso custou o seu nome.
O que Observar
Deve-se observar primeiramente o acabamento geral da peça. Deve-se lembrar, que algumas peças eram feitas por artesãos e joalheiros. De forma geral, toda a produção alemã era feita com preciosismo. Detalhe e qualidade eram fundamentais. O mesmo pode ser observado em peças Inglesas e Japonesas. Grande parte das Condecorações brasileiras eram feitas por joalheiros, o que determina um alto nível de qualidade.
Em seguida é necessário observar os detalhes das figuras, letras e números. Deve-se ver se a peça original tem um determinado grau de detalhamento ou não. Pode ser que a peça original seja bem menos detalhada que a falsificação. Em alguns casos a falsificação vem de um joalheiro ou artesão preciosista que resolve inventar um melhor acabamento ou detalhamento. Deve-se ter a mente aberta e se ater aos fatos de como uma peça original realmente é.
Peças bordadas de tecido é um outro bom exemplo de comparação. É extremamente difícil a reprodução de peças de tecido bordadas. Alguns bordados são feitos de forma seqüencial, a reprodução da ordem de costura é praticamente impossível. Um exemplo disso são os patches de Tropas de Montanha Alemãs (Gebirgsjäger), que traz uma Flor Edelweiss em seu centro. A simples comparação dos pontos de costura com uma peça original já elimina as réplicas e falsificações. Conhece-se as originais por estarem costuradas em túnicas tidas como originais e através deste modelo, faz-se as comparações. As falsificações possuem pontos de bordado completamente diferentes, formas diferentes e espaços entre os componentes do desenho, que não existem nos originais.
O Teste da Luz Ultravioleta
Um teste muito questionado no meio das Antiguidades Militares é o teste da Luz Ultravioleta ou da Luz Negra.
Tecidos e alguns tipos de papéis e fotos podem ser submetidos ao teste. Este teste consiste em submeter a peça a uma luz Ultravioleta. Se a peça reagir, ou melhor brilhar quando submetida ao teste, a peça é falsa ou foi contaminada.
Uma peça brilha quando submetida à luz UV quando ela tem fósforo ou decorrente dos processos de branqueamento que possuem elementos químicos que reagem quando submetidos a esta luz. Antes de 1945 os processos de fabricação não apresentavam elementos que reagissem com a luz UV. O poliéster, que foi criado anos depois de 1945 também reage sob a luz UV. A maioria dos tecidos hoje tem o poliéster em sua constituição.
Uma peça original, jamais deve reagir quando submetida ao teste. No entanto, se a peça tiver sido contaminada, ela poderá reagir, embora ainda seja uma peça original. A contaminação pode ocorrer se o tecido tiver sido lavado com algum produto atual que contenha o elemento químico fósforo (grande parte dos sabões, ou ainda removedores e querosene).
Este teste só pode ser feito em cores claras e quanto mais branco melhor. Cores escuras ou vivas não reagem à luz ultravioleta.
O questionamento de grande parte dos colecionadores é justamente com relação à contaminação das peças, o que significa que várias peças originais poderiam estar sendo erradamente classificadas como falsas.
Atualmente se diz no meio de Antiguidades Militares que há uma corrente forte de produção de tecidos vindos da Índia, que não reagiriam à luz UV.
O fato é, que hoje quase todas as falsificações existentes podem ser barradas com o teste da luz UV.
Toda a Medalha é Falsa quando a Fita reagir na luz UV
Não, o teste só desqualifica a fita, não a medalha. Se a fita reagir, o conselho é analisar com mais cuidado a medalha, mas isso não significa que ela seja falsa.
No caso de condecorações, devemos lembrar que às vezes a medalha é original e a fita é uma réplica. Isso ocorre com freqüência e deve ser avisado pelo vendedor. Muitas medalhas perderam suas fitas ou nem chegaram a ter. Em algum momento alguém achou por bem, arrumar uma réplica para ter o aspecto geral da peça completa. Algumas condecorações antigas, pré-1914, nem mais fita tem porque as mesmas se deterioraram com o tempo.
Assim cabe ao colecionador tomar uma decisão: aceitar ou não a existência de uma fita réplica fazendo um conjunto com uma medalha original. Há colecionadores que aceitam porque querem saber como era a cor e o aspecto do conjunto, e há colecionadores que acham uma sacrilégio misturar uma Antiguidade com algo moderno. Isso vai de cara um. Na Inglaterra, que possui um dos maiores grupos de colecionadores, por conta da História Militar antiga do país, o uso de fitas réplicas é muito bem visto. Nos EUA também há uma corrente muito forte disso, existindo inclusive bancos trocas de fitas, para atender aos colecionadores que precisem de uma fita para uma determinada medalha.
Devo me Preocupar com Antiguidades em Excelente Estado de Conservação?
Não tanto quanto qualquer outra peça. Ainda podem ser encontradas Antiguidades em estado MINT e NEAR MINT de conservação. Ainda hoje caixas fechadas contendo condecorações e equipamentos, e estoques antigos que foram conservados com cuidado são encontrados e as peças acabam aparecendo no mercado. Então, peças neste estado de conservação são perfeitamente possíveis de serem encontradas e totalmente originais.
A questão é, o colecionador quer ter uma peça MINT ou quer ter uma peça combativa que esteve em uso e apresenta sinais deste uso? Uma peça combativa é o que chamamos de uma peça que apresenta sinais de combate e de uso. Isso varia de colecionador para colecionador. Algumas peças nunca apresentaram aspecto combativo, porque não eram usadas em uniforme de combate, como algumas Condecorações com Fita. Estas sempre foram entregues e guardadas pelos condecorados.
Por outro lado, as falsificações bem feitas tendem a apresentar sinais de uso. Então, os falsários além de se preocupar com os detalhes e materiais, depois também se preocupam por elaborar sinais de uso ou desgaste. Em geral as falsificações com bom estado de acabamento são as de pior qualidade.
Existem várias histórias no meio de Antiguidades Militares, de falsários que urinavam sobre capacetes e deixavam ao tempo, para criar nestes sinais de oxidação similares aos da ação do tempo, ou de falsários que furavam capacetes com o uso de uma picareta, para simular aberturas e rasgos similares a pedaços de projéteis e estilhaços que tivessem atingido a peça.
A criatividade dos falsários vai longe e sempre mais inventiva.